Este é mesmo o país
de Ruy Barbosa.
É inacreditável a
estupidez que vem cercando a discussão atual sobre perigos que corre a língua
portuguesa no Brasil e seus possíveis corretivos pedagógico-educacionais.
Em primeiro lugar,
mal consigo acreditar em meus olhos quando vejo professores universitários,
supostamente formados em linguística, atacando o português “errado” falado (ou
escrito) pelos jovens, defendendo um português “certo”, como se existisse um
português errado ou certo. Certo e errado, queridos, não é critério
linguístico. E moral ou jurídico. Só uma lei determina o que é certo. Como
disse para sempre o apostolo Paulo, “a lei criou o pecado”. São as regras das
gramáticas que criam o erro, não os usuários da língua.
Quem estabelece o
certo e o errado é toda comunidade de falantes, não meia dúzia de faraós
encastelados em seus filológicos sarcófagos universitários ou acadêmicos.
Não foi aqui no Brasil que se
bagunçou a colocação dos pronomes de Portugal? Nós brasileiros, começamos frase
com variação pronominal, e achamos mais gostoso assim (“me dá um dinheiro aí”,
“te digo uma coisa”, “lhe dou uma lição”), coisa que discrepa do uso lusitano.
E daí? Boa parte do esforço do modernismo (mários e oswaldes) foi no sentido de
obtermos dignidade de escrever como falamos, nós, do lado de cá do Atlântico.
Leio, agora, que em Portugal o
problema também é grave. Às avessas. A invasão da simpática republiqueta
ibérica pelas novelas da Globo está levando o pânico às hostes dos
conservadores do idioma de Camões. Leio até propostas de alguns, dignos descendentes
de Salazar, recomendando a criação de comissões estatais de censura para
fiscalizar a colocação de pronomes na TV portuguesa, invadida pela barbárie
ipanemense da Globo. É de morrer de rir.
A “contribuição
milionária de todos os erros”, de que falava Oswald, erros negros, erros
índios, erros mestiços, erros mulatos, hoje, está por cima. É como dizem,
genialmente, os baianos, esses primeiros brasileiros, “Deus é mais”.
E se os jovens, hoje não sabem
“se expressar” (como os velhos querem, evidentemente), isso se deve a vinte
anos de estúpida ditadura, a um ensino aviltado e degradado, a um mercantilismo
generalizado, que nada tem a ver com “domínio do português”, “conhecimento da
língua” e outras bobagens, que servem, apenas, para justificar o emprego de
milhares de pedagogos reacionários e repressivos.
As múmias nem percebem que os
tempos mudaram. Mais que a língua, fala, hoje, a linguagem, o idioma integral
do corpo, da roupa, da atitude.
Já estamos num videoclipe. E as
múmias continuam se comportando, e legislando, como se estivéssemos em plena
sessão da Academia Brasileira de Letras, onde para um Antonio Houaiss tem oito Ramsés
III.
É obvio, para quem quer que não
tenha o QI do português das nossas anedotas, que historicamente, o futuro da língua,
um dia, lusitana, está aqui no Brasil de 130 milhões de falantes, e não no
Portugal de parcos 10 milhões, um país sem nenhuma expressão internacional,
destituído de qualquer importância cientifica, industrial ou tecnológica, um
mero eco da historia que já houve.
Através da fala brasileira,
veiculada pelas novelas da Globo, executa-se uma justiça histórica, que já
tardava séculos, esses séculos em que nós estávamos errados, porque Portugal
sempre estava certo.
Graças a Portugal que nos
colonizou e explorou durante quatro séculos, falamos, nós, a sexta potencia
econômica do planeta, uma língua que, em nível mundial, é apenas um “patois” do
espanhol, um dialeto obscuro que ninguém, no mundo, lê nem entende. É a última
sacanagem de Portugal. Estamos enclausurados numa língua insignificante. Se um
dia ela tiver que ser alguma coisa, nós, brasileiros, é que temos que fazê-lo.
Só preconceitos
arqueológicos-necrofilos ainda nós fazem chamar essa língua de “portuguesa”.
Está na hora de Portugal começar
a falar brasileiro.
E assim será, queiram os
professores ou não queiram.
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